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Lendas e Tradições


Esta freguesia do distrito de Viseu detém um leque de lendas que foram sendo transmitidas de geração em geração, destacando-se a Lenda da Senhora do Monte e a Lenda de Santo Tirso.

 

Lenda da Senhora do Monte

Nos finais do século XIX, ardeu a Capela de Nossa senhora do Monte e, segundo a lenda, quando a capela ardeu, a imagem de Nossa Senhora do Monte foi trazida para a Igreja Paroquial e, por várias vezes, regressou, pelos seus próprios meios, à capela.

Essa imagem encontra-se na igreja Matriz e restaurada.

 

Lenda de Santo Tirso

Capela de Santo Tirso,

A mais antiga da Povoação,

Data dos tempos dos Mouros,

Dos primórdios da Nação.

 

Uma lenda muito antiga,

Deste Santo, já falava,

E vou tentar descrever,

O que nela se contava.

 

Andava um dia um baile,

Só de Mouros e Judeus,

E cometeram um pecado,

Fazendo um milagre, Deus.

 

Na casa onde dançavam,

Uma cristã trabalhava,

E para aquelas infiéis,

Todos o dia cozinhava.

 

Num enorme caldeirão.

Água , a aquecer tentava,

Muita lenha ali queimou,

Mas a água fria estava

 

O fogo partia as pedras,

Que naquela lareira havia,

Enquanto a água ao lume,

Mais gelava e não fervia.

 

Foram sete carros de lenha,

que a criada ali queimou,

Mas a água não fervia,

E um Judeu lhe gritou.

 

Então maldita criada.

Essa água não aquece?

Com tanto fogo debaixo,

Não sei o que acontece.

 

Meteu a mão naquela água,

que estava fria e gelada,

Os Judeus que a espiavam

Rompem em gargalhada.

 

Com a mão no caldeirão,

Remexeu a água fria,

E viu, a Cruz de Cristo dourada,

Que no fundo da água jazia.

 

A Cruz de Cristo tirou,

E um milagre se deu,

Aquela água tão fria,

Com a grande energia ferveu.

 

Com a força do ferver,

Toda água saltou fora,

O que aconteceu aos judeus,

Eu vou-lhes contar agora:

 

Foram presos derrotados,

Cada um p'ra seu lugar,

Mas passados muitos anos,

Se voltaram a juntar.

 

Foram juntos num só dia,

Numa escura prisão,

Mas nenhum se conhecia,

Nem mesmo o próprio irmão.

 

Um dia no desespero,

Estando quasi a morrer,

Rogou a Santo Tirso,

Que lhe viesse valer.

 

A que Santo Tirso pedes?

Que te livre da prisão?

Perguntou-lhe um dos presos,

Que era seu  próprio irmão.

 

Santo Tirso de Penela Vedra,

Só ele me pode valer,

Que eu veja meus amigos,

Antes de aqui morrer.

 

Penela Vedra é minha Terra,

Terra, onde eu fui nascido,

Há muito que a não vejo,

Por um pecado cometido.

 

Outros, que os ouviram falar,

Como amigos procederam,

Chamaram-se pelos nomes,

E assim se reconheceram.

 

Não sei se será uma lenda,

Ou se teria acontecido,

Mas escutem-me também,

O que a seguir vos digo.

 

A casa foi cenário,

desta simples narração

Existe bem conservada,

No centro da povoação.

 

Tem sacadas e janelas,

E tem largos beirais,

Não tem ninhos de andorinhas,

Nem lá criam os pardais.

 

Durante a primavera,

Cada beiral tem o seu ninho,

Nesta casa nunca que viu,

O de qualquer passarinho.

 

Esta Lenda é verdadeira,

E não é invenção minha,

E nessa casa ninguém viu,

Qualquer ninho andorinha.

 

Esta lenda, ou narrativa,

Que eu acabo de contar,

Foi ouvida a uma velhinha,

Numa noite de luar

 

É uma lenda muito antiga,

Uma lenda como as demais,

Que passam de boca em boca,

São lendas tradicionais.

 

Dou por finda esta história,

Escrita tão toscamente,

Passada a minha aldeia,

Que eu amo loucamente.

 

Serafim de Jesus Pinto (Extraída do Boletim Municipal, nº16, Abril de 1988)

Publicado por: Freguesia de Penela da Beira

Última atualização: 06-02-2025

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